Greve: paralisar para mover

Entrevista multimídia sobre greves e movimentos sindicais no Brasil

Por Camilla Scherer, Janaína Ferraz e Paola Patriarca

Na última segunda-feira, 03/06, os funcionários da Universidade Estadual Paulista (Unesp) entraram em greve pela segunda vez em menos de quatro anos. No campus de Bauru,  70% dos servidores técnicos e administrativos aderiram à paralisação, que foi decidida em assembleia. Os trabalhadores rejeitam a proposta de reajuste salarial de 5,39% oferecida pela reitoria e pedem aumento de 11%, entre outras reivindicações.  Esse cenário não é apenas de funcionários. No último mês, estudantes de nove campus paralisaram as aulas em reivindicação a melhores condições de moradia, bolsas-auxílio e restaurante universitário.

Clique e veja o mapa da greve em todos os campus da Unesp

Alunos aderem à paralisação dos funcionários da Unesp

Alunos aderem à paralisação dos funcionários da Unesp (Foto: Reprodução/G1)

O professor Maximiliano Vicente leciona a disciplina “Realidade Sócio-Econômica e Política Brasileira Contemporânea” no campus de Bauru e fala sobre o histórico das greves no país e sua importância para os movimentos sociais do século XXI.

Professor Max

Conte um pouco sobre os movimentos sindicais da última década.

Maximiliano: Na última década, aliás, um pouco antes, tivemos uma queda dos movimentos sindicais por conta da economia neoliberal. O que foi a economia neoliberal?  Ela abriu o país ao capital estrangeiro, às empresas estrangeiras e isto implicou no avanço tecnológico muito grande dentro do contexto da área mais industrial do país, que é São Paulo e Rio de Janeiro. Essa mão de obra não estava preparada para entrar nesse mercado de trabalho. Nós saímos de uma década perdida, uma década onde as pessoas não tiveram muita chance de permanecer no setor produtivo, pois aumentou o desemprego, aumentou a inflação e estávamos em uma crise muito forte. Se você junta esse quadro com o anterior, acontece que os movimentos sociais perdem força, porque o ambiente é mais individualista, de você se preparar para um mercado exigente. Você então se desvincula dos sindicatos do movimento e tenta solucionar teu problema. Com isto, os movimentos perderam a força. A reforma que o Estado promove eram reformas que apoiavam esse tipo de iniciativa, das pessoas irem atrás e se sentirem culpadas por não estarem acompanhando o avanço que o país estava experimentando. Então o movimento teve uma queda significativa.

E atualmente, como a sociedade encara os movimentos sociais?

Quais foram as diferenças para os movimentos quando surgiram?

Maximiliano: Quando surgiram os movimentos dentro no nosso país, embora sempre colocamos a década de 70 como referência, tivemos movimentos intensos muito antes. Tivemos a Guerra dos Farrapos e dos Quilombos. Todos eles são movimentos sociais muito intensos e todos são movimentos sociais. Mas, para nós, temos referência os da década de 70 por serem os atuais. Eles lutavam pela reposição salarial, lutavam pela democracia no país e lutavam pelos direitos trabalhistas, que é o que vai ser espelhado na Constituição de 1988. Todos os direitos que nós temos, que Getúlio tinha iniciado em torno da CLT, muitos deles, pelo menos os básicos, ficaram na Constituição. A partir daí, o que nós temos é a manutenção e não o grande avanço dos direitos dos trabalhadores. Essas características dos movimentos sociais não têm mais hoje.

E por que essas características desapareceram?

Maximiliano: Porque hoje temos os direitos garantidos. Então, o movimento faz com que o trabalhador lute pela causa do trabalho, no mais, lutar pelo direito dos trabalhadores.

Qual a sua opinião sobre a greve dos estudantes?

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